quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um segredo de um casamento feliz

por Miguel Esteves Cardoso



Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.

Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.

O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais.

Foram concordados, são desenvolvidos, são revistos, são alterados, esquecidos e discutidos. Mas um casamento feliz com dez anos, tal como um filho de dez anos, tem uma personalidade mais rica e mais bem sustentada, expressa e divertida do que um bebé com um ano de idade.

Eu só vivo desta maneira - que é o nosso casamento - vivendo com a Maria João, da maneira como estamos um com o outro, casados. Nada é exportável. Não há bocados do nosso casamento que eu possa levar comigo, caso ele acabe.

O casamento é um filho carente que dá mais prazer do que trabalho. Dá-se de comer ao bebé mas, felizmente, o organismo do bebé é que faz o trabalho dificílimo, embora automático, de converter essa comida em saúde e crescimento.

Também o casamento precisa de ser alimentado mas faz sozinho o aproveitamento do que lhe damos. Às vezes adoece e tem de ser tratado com cuidados especiais. Às vezes os casamentos têm de ir às urgências. Mas quanto mais crescem, menos emergências há e melhor sabemos lidar com elas.

Se calhar, os casais apaixonados que têm filhos também ganhariam em pensar no primeiro filho que têm como sendo o segundo. O filho mais velho é o casamento deles. É irmão mais velho do que nasce e ajuda a tratar dele. O bebé idealmente é amado e cuidado pela mãe, pelo pai e pelo casamento feliz dos pais.

Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.

Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.

Os livros que li dão a ideia de que os casamentos felizes dão muito trabalho. Mas se dão muito trabalho como é que podem ser felizes? Os livros que li vêem o casamento como uma relação entre duas pessoas em que ambas transigem e transaccionam para continuarem juntas sem serem infelizes. Que grande chatice!

Quando vemos o trabalho que os filhos pequenos dão aos pais, parece-nos muito e mal pago, porque não estamos a receber nada em troca. Só vemos a despesa: o miúdo aos berros e a mãe aflita, a desfazer-se em mimos.

É a mesma coisa com os casamentos felizes. Os pais felizes reconhecem o trabalho que os filhos dão mas, regra geral, acham que vale a pena. Isto é, que ficaram a ganhar, por muito que tenham perdido. O que recebem do filho compensa o que lhe deram. E mais: também pensam que fizeram bem ao filho. Sacrificam-se mas sentem-se recompensados.Num casamento feliz, cada um pensa que tem mais a perder do que o outro, caso o casamento desapareça. Sente que, se isso acontecer, fica sem nada. É do amor. Só perdeu o casamento deles, que eles criaram, mas sente que perdeu tudo: ela, o casamento deles e ele próprio, por já não se reconhecer sozinho, por já não saber quem é - ou querer estar com essa pessoa que ele é.

Se o casamento for pensado e vivido como uma troca vantajosa - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo e ambos ficamos melhores do que se estivéssemos sozinhos -, até pode ser feliz, mas não é um casamento de amor.

Quando se ama, não se consegue pensar assim. E agora vem a parte em que se percebe que estes conselhos de nada valem - porque quando se ama e se é amado, é fácil ser-se feliz. É uma sorte estar-se casado com a pessoa que se ama, mesmo que ela não nos ame.

Ouvir um casado feliz a falar dos segredos de um casamento feliz é como ouvir um bilionário a explicar como é que se deve tomar conta de uma frota de aviões particulares - quantos e quais se devem comprar e quais as garrafas que se deve ter no bar, para agradar aos convidados.

Dirijo-me então às únicas pessoas que poderão aproveitar os meus conselhos: homens apaixonados pelas mulheres com quem estão casados.

E às mulheres apaixonadas pelos homens com quem estão casadas? Não tenho nada a dizer. Até porque a minha mulher continua a ser um mistério para mim. É um mistério que adoro, mas constitui uma ignorância especulativa quase total.

Assim chego ao primeiro conselho: os homens são homens e as mulheres são mulheres. A mulher pode ser muito amiga, mas não é um gajo. O marido pode ser muito amigo, mas não é uma amiga.

Nos livros profissionais, dizem que a única grande diferença entre homens e mulheres é a maneira como "lidam com o conflito": os homens evitam mais do que as mulheres. Fogem. Recolhem-se, preferem ficar calados.

Por acaso é verdade. Os livros podem ser da treta mas os homens são mais fugidios.

Em vez de lutar contra isso, o marido deve ceder a essa cobardia e recolher-se sempre que a discussão der para o torto. Não pode ser é de repente. Tem de discutir (dizê-las e ouvi-las) um bocadinho antes de fugir.

Não pode é sair de casa ou ir ter com outra pessoa. Deve ficar sozinho, calado, a fumegar e a sofrer. Ele prende-se ali para não dizer coisas más.

As más coisas ditas não se podem desdizer. Ficam ditas. São inesquecíveis. Ou, pior ainda, de se repetirem tanto, banalizam-se. Perdem força e, com essa força, perde-se muito mais.

As zangas passam porque são substituídas pela saudade. No momento da zanga, a solidão protege-nos de nós mesmos e das nossas mulheres. Mas pouco - ou muito - depois, a saudade e a solidão tornam-se insuportáveis e zangamo-nos com a própria zanga. Dantes estávamos apenas magoados. Agora continuamos magoados mas também estamos um bocadinho arrependidos e esperamos que ela também esteja um bocadinho.

Nunca podemos esconder os nossos sentimentos mas podemos esconder-nos até poder mostrá-los com gentileza e mágoa que queira mimo e não proclamação.

Consiste este segredo em esperar que o nosso amor por ela nos puxe e nos conduza. A tempestade passa, fica o orgulho mas, mesmo com o orgulho, lá aparece a saudade e a vontade de estar com ela e, sobretudo, empurrador, o tamanho do amor que lhe temos comparado com as dimensões tacanhas daquela raivinha ou mágoa. Ou comparando o que ganhamos em permanecer ali sozinhos com o que perdemos por não estar com ela.

Mas não se pode condescender ou disfarçar. Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito, exprimido com o devido amuo de parte a parte, até se tornar na conversa abençoada acerca de quem é que gosta menos do outro.Há conflitos irresolúveis que chegam para ginasticar qualquer casal apaixonado sem ter de inventar outros. Assim como o primeiro dever do médico é não fazer mal ao doente, o primeiro cuidado de um casamento feliz é não inventar e acrescentar conflitos desnecessários.

No dia-a-dia, é preciso haver arenas designadas onde possamos marrar uns com os outros à vontade. No nosso caso, é a cozinha. Discutimos cada garfo, cada pitada de sal, cada lugar no frigorífico com desabrida selvajaria.

Carregamos a cozinha de significados substituídos - violentos mas saudáveis e, com um bocadinho de boa vontade, irreconhecíveis. Não sabemos o que representam as cores dos pratos nas discussões que desencadeiam. Alguma coisa má - competitiva, agressiva - há-de ser. Poderíamos saber, se nos déssemos ao trabalho, mas preferimos assim.

A cozinha está encarregada de representar os nossos conflitos profundos, permanentes e, se calhar, irresolúveis. Não interessa. Ela fornece-nos uma solução superficial e temporária - mas altamente satisfatória e renovável. Passando a porta da cozinha para irmos jantar, é como se o diabo tivesse ficado lá dentro.

Outro coliseu de carnificina autorizada, que mesmo os casais que não podem um com o outro têm prazer em frequentar, é o automóvel. Aí representamos, através da comodidade dos mapas e das estradas mesmo ali aos nossos pés, as nossas brigas primais acerca das nossas autonomias, direcções e autoridades para tomar decisões que nos afectam aos dois, blá blá blá.

Vendo bem, os casamentos felizes são muito mais dramáticos, violentos, divertidos e surpreendentes do que os infelizes. Nos casamentos infelizes é que pode haver, mantidas inteligentemente as distâncias, paz e sossego no lar.

domingo, 24 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Feira dos Gorazes


(imagem retirada da net)

A intenção da organização é não deixar perder os valores de outros tempos, mas a verdade é que a tradição já não é o que era. Os gorazes têm origem medieval, e o termo "gorax", que dá nome à feira, é de origem grega e significa carne de porco. Esta palavra foi aplicada ao certame "porque era nessa feira que se pagavam os impostos com carne de porco", explica o historiador António Mourinho. Para além disso, ditava a tradição que "os gorazes anunciavam a altura certa para começar a época das matanças do porco; hoje, a carne do porco vende-se todo o ano e em qualquer parte, mas na altura as pessoas iam aos gorazes para comprar a primeira marrã - como então lhe chamavam - e levavam aquela carne como se fosse um mimo", refere o historiador. Na feira vendia-se então todo o tipo de produtos agrícolas, hortícolas e agro-pecuários, "havia um dia para a feira dos burros, que era o dia 15; no dia 16 decorria a feira normal; e no dia 17 era a feira do gado", recorda António Mourinho.

Do ponto de vista social, este era um acontecimento de grande importância para a vila, "vinha gente de todo o lado, uns vinham a pé, outros a cavalo, e pernoitavam na vila; era então que se cantavam os fados à desgarrada, jogava-se às cartas e, claro, a festa era também aproveitada para dar início a alguns namoricos", afiança.

A vila de Mogadouro possui feira desde 1290; no entanto, os documentos referentes aos gorazes datam de 1760. "Esta era a feira mais importante do ano, altura em que o provedor, o secretário e o tesoureiro da Santa Casa da Misericórdia faziam a colecta junto dos feirantes para a instituição", adiantou. Os mercadores expunham as suas mercadorias nos cabanais que possuía a Misericórdia, mas há já muitos anos que estes cabanais desapareceram.

Adivinham para onde vou?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eu podia ter escrito isto...

(imagem retirada da net)

Ter um Mac é…

No Facebook alguém comenta que comprou um Mac para a filha e esta ainda não se deu muito bem. Um coro responde elogios e apoios. Uma dessas vozes diz algo como “ter um Mac não é ter um computador é ter um certo “estilo” e forma de estar. Uma “filosofia” quase… É “cool”.

Eu conheço esse discurso. Geralmente vem embalado com outra verdade feita, “o Mac é caro”.

Sorrio. Mas digamos que as “vantagem” do “estilo” e do “coolness” são secundárias.

Ter um Mac é não ter vírus. Ter um Mac é ter descanso. Ter um Mac é não lutar contra o computador. Ter um Mac é usar o mesmíssimo software que se usa no Windows — com algumas vantagens. (Ainda assim recomendo não usar esse software: os seus defeitos não melhoram por mudar de SO. As alternativas são todas melhores.)

Ter um Mac é, na esmagadora maioria dos casos, ter um hardware de melhor qualidade. Ter um Mac é ter durabilidade (o meu MacBook Pro vai no quarto ano de uso super-intensivo, 14 horas por dia 7 dias por semana e promete fazer mais 3 nas calmas). Logo, ter um Mac é ter um computador mais económico. Mais caro no momento da compra, mais barato ao fim de 2 anos. Bastante mais barato ao fim de três anos. Um terço ou menos do preço ao fim de quatro anos.

Desde que passei a ter Mac — puff! Ganhei dias por ano. Os dias das limpezas, reinstalações, reconfigurações.

Desde que ofereci um Mac à minha filha, já lá vai um ano, comprei semanas de tranquilidade. Adeus, telefonemas de pânico por causa dos vírus recebidos pelo MSN. Adeus, formatações mensais, reinstalações do sistema operativo, verificação de vírus, arrumação do disco.

Às vezes nem acredito: um ano inteirinho sem um telefonema para resolver uma questão qualquer, das muito graves às menos graves!

Por isso…. sorrio com essa do “certo estilo”. Pois se o meu Mac ainda por cima me dá um certo estilo, ótimo!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

State of mind

(imagem retirada da net)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Saquinho de alfazema


Fui uma das contempladas com um saquinho de alfazema do Saídos da Concha. Uma delícia, além de um cheirinho maravilhoso, consegue transmitir o carinho e dedicação com que foi feito.
Agradecida Constança.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O meu wallpaper actual

(imagem retirada da net)

domingo, 3 de outubro de 2010

Tarte de maçã


Ingredientes:

1 placa de massa
maçãs q. b.
500 ml de leite
100 gr de farinha maizena
100 gr + 10o gr de acçúcar
4 gemas
baunilha

Preparação:

Misturar todos os ingredientes num recipiente excepto a baunilha e 100 gr de açúcar.
Levar ao microondas durante 2:30 minutos, na potência máxima.
Retirar do microondas e bater muito bem com uma vara de arames para desfazer os grumos. Voltar a colocar no microondas maos 2:30 minutos. Voltar a bater com a vara de arames.
Acrescentar o restante açúcar e a baunilha a gosto e tornar a bater.
Descascar e partir as maçãs.
Colocar a massa folhada numa tarteira. Deitar o creme de pasteleiro em cima da massa folhada. Colocar as maçãs a gosto. Polvilhar com açucar. Vai ao forno até a massa folhada estar cozida.

sábado, 2 de outubro de 2010

Guilherme

(imagem retirada da net)

E não é que já nasceu?