quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu podia ter escrito isso

Há mil e uma razões para se chegar a esta situação, a de decidir que não há nada a fazer, a de ter de ter "a conversa", a de fazer a mala, dividir coisas, fazer contas, desmanchar projectos de vida. Na verdade, hoje em dia é quase mais comum ver gente que está em segundas, terceiras ou quartas relações do que com a mulher ou o homem que um dia pensaram ser "o tal" ou "a tal". Na verdade, essas pessoas especiais são aquelas com quem estamos agora - outros já o foram e foram-no enquanto fomos felizes ao lado delas.

O ponto em comum que encontro em quase todas as rupturas é a falta de diálogo. E falta de diálogo não é aquela coisa de chegar a casa e não ter muito para contar, ou o estar à mesa e não ter nada de verdadeiramente novo para partilhar - o que também acontece, muitas vezes, em relações mais longas (e não há grande mal nisso, nem sequer vejo isso como um mau sinal - aliás, estar em silêncio com alguém sem sentir desconforto revela sobretudo cumplicidade). Falta de diálogo é não falar sobre os problemas nas alturas certas. Há casais que se separaram porque um traiu o outro e foi apanhado. A traição é só a gota de água, porque o problema foi o casal não ter falado na altura em que aquele que traiu começou a sentir necessidade de estar com outra pessoa. Por que é que isso aconteceu? O que é que estava a correr mal? O que é que faltava na relação?


Da mesma forma que há quem se separe porque o casal deixa de ter tempo para si, absorvidos que estão com trabalho, com as crianças, com as obrigações familiares, com projectos paralelos. Treta. O que separa as pessoas não é a falta de tempo para a relação, é a opção que fazemos em privilegiar tudo o resto menos a relação. O trabalho é importante, claro que sim, a família também, pois, os putos, óbvio, mas então e o parceiro ou a parceira? Também. E por isso merecem esse tempo, merecem que se desligue o computador mais cedo, que se abdique de um jogo de futebol, que se diga que não ao patrão, porque é preciso dar tempo e amor à pessoa com quem estamos. Mas também sobre isto os casais devem falar. E têm de falar. Não podemos ouvir e engolir ou aceitar. Temos de dizer que não e dar murros na mesa e abrir os olhos ao outro. A aceitação mútua de que não há nada a fazer, de que o trabalho tem de ser prioritário, é o caminho para o fim de um amor, porque, como é óbvio, as relações não vivem do ar, o amor platónico e por carta (hoje são sms e mails) já não chega. É preciso contacto, e beijos, e amassos, e fins-de-semana a dois, e é preciso empandeirar o puto para os avós de vez em quando e mandar uma rapidinha à hora de almoço. Temos de ser um bocadinho mais putos, um bocadinho mais malucos, e menos avós.Na verdade, não há falta de tempo, há sim opções. Depois, só temos de aceitar e compreender as consequências dessas opções. Quando a opção deixa o outro de lado, então, o fim é quase inevitável.

Bom, agora é aquela parte em que todos acham que algo vai mal comigo ou com a minha vida amorosa. Não, descansem, está tudo óptimo. Só acho este um tema interessante, e sei que afecta muita gente. Como já passei por duas situações do género, consigo olhar para trás e ver o que falhou. E o que falhou foi, sobretudo, a falta de diálogo, ou a falta de aceitação em relação a essa conversa. E aqui está outro tópico importante: nem sempre a conversa é bilateral, ou seja, muitas vezes há uma parte que, pura e simplesmente, se recusa a ouvir ou entra em negação. E quando isto acontece, de facto, a conversa não adianta grande coisa, mas ainda assim é preferível uma conversa unilateral do que nenhuma conversa, é preferível despejar tudo, mesmo que pareça que o outro está desligado, do que não dizer nada.

2 comentários:

  1. Excelente. Poucas são as pessoas que conheço que "alimentam" as suas relações, que conversam ou que são cúmplices no silêncio.

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